Recentemente foi publicado um primeiro trabalho de fôlego, feito com a maior seriedade a respeito do assunto.
O resultante deste estudo é o "Atlas da Exclusão Social, Os Ricos no Brasil", organizado pelo Economista Marcio Pochmann, com a indispensável ajuda de outros 16 especialistas.
A fonte principal dos dados foi o Censo Demográfico do ano 2000 (devidamente comparado ao Censo de 1980 e a Pesquisa de Orçamento Familiar de 1996), ambos do IBGE.
O trabalho é de fôlego e chega simultaneamente a conclusões interessantes e perturbadores.
A finalidade desta minha modesta contribuição não é a de interpretar o estudo feito e muito menos contestá-lo, mas sim de colocar em evidência alguns de seus pontos de vista, avaliações e números resultantes.
É justamente na condição de Planejador Financeiro com alguns anos de prática que desejo evidenciar alguns aspectos que considero imprescindíveis para que alguém possa ser avaliado como sendo "rico", independente do fato de entidades governamentais considerarem um grupo familiar de "bem de vida".
O censo do ano 2000, segundo o estudo, fala de 1.162.000 famílias ricas no Brasil, representando 2,4% do total de aproximadamente 48.416.000 famílias existentes. A média de ganhos dessas famílias é calculado em R$ 10.982,00 mensais.
Nunca esquecendo, é claro, que os dados acima significam que uma parcela deste grupo de 2,4% da população ganha acima e outro a abaixo deste valor médio.
A primeira dúvida que coloco em relação aos dados coletados e sua interpretação é afirmar que quem ganha R$10.982,00 mensais não pode apenas por este único fato ser considerado rico. Pode isso sim, estar ganhando muito mais em relação às 97,6% restantes famílias do Brasil.
Assumindo que a família é constituída de 4 pessoas (casal mais dois filhos) e que somente uma delas recebe esta remuneração bruta mensalmente e de que 20% irá para o imposto de renda ( sem falar de outras deduções como INSS, etc), a família de fato recebe em mãos R$ 8.785,00.
Esta família certamente pagará em média R$ 1.500,00 de instrução para seus filhos estudando em escola particular, terá um seguro saúde no valor R$ 500,00 mensais e gastará ainda em alimentação, habitação, transporte, etc.
Propositadamente, nesta matéria, não entro no mérito de cada item do orçamento doméstico- familiar, pois haveria por demais discussões a respeito de percentuais, quase sempre diferentes, para cada grupo familiar.
O ponto que desejo realçar é que com o citado ganho mensal, provavelmente não sobra nada para investir e portanto formar uma reserva e muito menos ter a possibilidade de investir na aquisição de um imóvel para a própria moradia, mesmo pagando suavemente algum empréstimo imobiliário!
Em virtude das colocações acima, questiono a afirmação de ser considerado rico, a família que ganha R$ 10.982 mensais.
Contrastando com o acima afirmado por mim e ampliando o aspecto negativo da minha conclusão, segundo algumas entidades acadêmicas e empresariais que efetuam estudos a respeito do enquadramento das diversas classes sócio-econômicas, aquelas assumem que alguém que ganha 30 salários mínimos mensais ( hoje R$ 7.200,00) , já pertence à classe A1! Estas mesmas entidades enquadram famílias com ganhos de 20 salários mínimos mensais ( R$ 4.800,00) como sendo da classe sócio econômica A2!
Novamente na qualidade planejador financeiro, considero que qualquer família que deseja pertencer a classe rica deve pelo menos possuir uma boa reserva financeira, além de possuir sua moradia própria totalmente paga.
E qual deveria então ser a reserva financeira desta família para dar-lhe alguma tranqüilidade relativa?
Segundo minha concepção de "relativa tranqüilidade financeira", pelo menos capital suficiente para poder prescindir da renda mensal de R$ 10.982 por dois anos, isto é entre R$ 1.800.000,00 e R$ 2.000.000,00 ( rendimento básico do capital calculado em 7% a.a.)
Gosto de usar o termo "relativa tranqüilidade financeira", pois a aquisição de um novo carro, viagens, férias e tantos outros imprevistos que ocorrem em nossas vidas, podem esgotar rapidamente nossas reservas, algumas vezes duramente conquistadas.
Terminando estas considerações quase filosóficas, mas por outro lado muito realistas, volto à interpretação do "Atlas da Exclusão Social, Os Ricos no Brasil" para afirmar que algumas delas me assustaram demais.
Vejo por exemplo que desde o ano de 1980 até 2000, as famílias "dito" ricas da cidade de Rio de Janeiro diminuíram em 32% em relação ao Brasil como um todo.
Ao contrário a cidade de São Paulo aumentou a concentração de famílias ricas em 102%, em relação ao Brasil como um todo!
As duas maiores cidade do Brasil juntas concentram hoje em dia 66,7% das famílias mais ricas do país ou seja 775.968 famílias para a totalidade do país de 1.162.164 famílias!
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